terça-feira, fevereiro 19, 2008

Lisboa e Vale do Tejo: cheias num país sem ordenamento


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Cheias no Vale do Tejo há quarenta anos

Não é todos os anos que se verificam cheias com a gravidade da situação ontem vivida em Lisboa e no Vale do Tejo, mas o facto de estas se repetirem, por vezes com perda de vidas humanas, merecia que as autoridades competentes adoptassem um conjunto de medidas que tarda.

O conceito de protecção civil evoluiu nos últimos anos, por força das circunstâncias e de um certo laxismo, para o combate aos incêndios florestais que, dada a sua periodicidade anual, assumiram contornos de tragédia nacional, do que resultou o esquecimento de um conjunto de perigos que derivam da combinação de causas naturais com a acção humana.

As cheias e inundações, que se repetem anualmente mas têm um efeito destruidor e psicológico muito inferior ao dos incêndios, são potenciadas por factores climáticos, como a combinação de chuvas fortes e marés, mas também são o resultado de um mau planeamento e de um ordenamento do territótrio que deixa muito a desejar.

Poucas são as câmaras municipais que, podendo lucrar com a atribuição de licenças de construção, se recusem a concedê-las com base em estudos que indicam ser o local pretendido um leito de cheia ou uma linha de água, do que resultará, inevitavelmente, uma inundação e um perigo para os habitantes.


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As cheias em Lisboa e Vale do Tejo (foto Lusa)

Também será difícil de recordar planos devidamente elaborados, que tenham em conta as cartas de risco, e que vedem a possibilidade de construção em locais onde passem linhas de água ou lençois friáticos, que ao serem desviados irão provocar danos de consequências imprevisíveis e locais cuja determinação é extremamente difícil.

Em diversas áreas, a erosão potenciada pelos incêndios florestais e pela ausência de reflorestação, tem agravado uma situação para a qual as alterações climáticas, cada vez mais evidentes, têm contribuido, resultando em inundações onde tal nunca se verificara no passado.

Provavelmente que não voltaremos a assistir a situações semelhantes às ocorridas há quarenta anos, mas tal não será devido a um melhor planeamento e ordenamento do território, mas porque os meios de socorro melhoraram e os sistemas de alerta são infinitamente mais eficazes, podendo prevenir populações inteiras de forma quase imediata, mas, no que diz respeito a medidas de fundo, pouco ou nada se evoluiu nestes anos.

2 comentários:

OzzyWolf disse...

É engraçado (que não tem graça nenhuma), que no dia anterior tenha havido na RTP aquele debate/discussão/reportagem sobre as Cheias em Portugal e tenha havido um senhor, responsável do SMPC de Loures (que por acaso não é cunhado do Sr. Presidente da Câmara, nem coordenador do Gabinete da Presidência e mais outro serviço qualquer) que veio afirmar que em Loures, o que se passou nas cheias de 83 nunca mais se voltaria a repetir...

Pimba, só para estar calado foi logo nessa noite!

O que é certo é que obviamente, e falo apenas no caso de Loures, algumas coisas são obviamente inevitáveis para o nível de cheias que se verificaram. A várzea é a várzea...

O que não se compreende, é como é que o sr não se lembrou de, mesmo com avisos de alerta amarelo para a zona, ter mandado evacuar, por exemplo, o estaleiro e oficinas da CMLoures onde pernoitam os veículos da segunda maior frota de carros municipais do país... (alguns foram para o galheiro, talvez agora já seja a terceira maior, vá)... pois, é verdade, ele tinha estado ocupado na RTP.

Não é preciso muito para bons planeamentos... bastava ceder a lobbys e tal. Os estudos, muitos já estão feitos.

Nuno Cabeçadas disse...

Foi uma estranha coincidência as cheias terem ocorrido imediatamente a seguir a um conjunto de delarações absurdas e irresponsáveis que bem ilustram a quem estão entregues as populações.

Existem muitos estudos, mas grande parte foram feitos sobre o joelho e outros já não são válidos após a introdução de alterações com impacto nas linhas de água e leitos de cheias, mas na generalidade poucas são as autarquias que condicionam a construção devido a factores de risco.

Quanto à responsabilidade, então nem vale a pena falar, mas se a negligência dos detentores de cargos públicos fosse julgada segundo os critérios aplicados aos particulares, então muitos estavam presos.

Um abraço