A divulgação noticiosa dos incêndios já foi por diversas vezes abordada, sobretudo porque houve uma óbvia diferença de tratamento jornalístico por parte dos vários canais televisivos, patente quer no alinhamento dos noticiários, quer no tempo dedicado a este tema.
A cobertura dada pela televisão pública, a que depende directamente do Estado a nível orgânico e financeiro, ficou francamente atrás da que foi dada pelas estações privadas, dando um muito menor relevo aos incêndios, quase ignorando em diversos dias ou colocando-os após notícias de pouca ou nenhuma importância.
Surge agora a suspeita de que esta linha editorial se deveu a uma tentativa de ingerência do Governo na Informação da RTP, a acreditar numa denuncia do deputado social-democrata Agostinho Branquinho, através de um telefonema feito para um dos coordenadores ou jornalistas da estação pública.
Embora este deputado apenas tenha adiantado que esta situação, a confirmar-se, ocorreu à hora do almoço num dia de Agosto e terá visado uma notícia referente aos incêndios florestais, a conclusão de alguns é que a chamada terá sido feita para a redação do Porto, a partir de onde é emitido o bloco informativo que começa às 13:00.
Apesar de o nome do coordenador ou jornalista ainda não temha sido divulgado, a Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) já procedeu a audições de eventuais envolvido, tendo sido levantada a possibilidade de consultar as facturas detalhadas dos extractos telefónicos dos acessores do Primeiro Ministro.
Foi, ainda, adiantado que existem "duas testemunhas" e que "uma delas" estaria presente na "regie" quando o alegado telefonema foi feito.
A cobertura dos incêndios por parte da televisão pública deve, naturalmente, ser justificada para além de "critérios jornalísticos" que, efectivamente, permitem qualquer interpretação e de pouco servem quando se pretende objectivar a qualidade da informação.
Mesmo aceitando que pode haver alguma subjectividade, existem situações ou acontecimentos que, pela sua importância, estão naturalmente hierarquizados, sobretudo quando está em causa o tantas vezes mencionado "serviço público de televisão", que devia afastar a RTP de uma mera guerra de audiências na qual não precisa de participar.
No entanto, se tiver havido uma interferência directa, tenha ou não sido atendida, existem razões para por em causa a política de informação deste Governo no respeitante aos incêndios florestais, com este caso a assumir contornos de particular gravidade, sobretudo numa altura em que relatórios importantes como o referente à morte de bombeiros ou ao desempenho do Beriev Be-200 continuam por revelar na sua integra.
Falta, portanto, esclarecer um conjunto de situações cujas implicações futuras a nível quer do socorro, quer da própria confiança no Estado é da maior importância, pelo que continuaremos a insistir numa informação objectiva, isenta e que dê a conhecer tudo o que de controverso se passou relacionado com os incêndios florestais do Verão de 2006.
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