Em Itália, o Be-200 também foi testado
Apesar de o Ministério da Administração Interna (MAI) garantir que ainda vai estudar os documentos, salientando que ainda não tomou uma decisão, o facto de a aquisição poder ser feita através da amortização de uma dívida será, sem dúvida, de capital importância.
Também ficou concluido, por coincidência ou não, na mesma altura, o inquérito ao acidente sofrido pelo avião a 6 de Julho, no qual são excluidas eventuais limitações operacionais que, curiosamente, foram detectadas quando o hidroavião foi testado pela Protecção Civil italiana.
Segundo o director do Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves, Anacleto dos Santos, o acidente na Barragem da Aguieira deveu-se a "um erro de planeamento" porque "a distância do braço do rio em que foi feito o enchimento foi mal calculada".
Confirma-se, portanto, que foi prolongado o contacto com a água na tentativa de fazer o reabastecimento completo numa trajectória onde tal não poderia verificar-se, do que resultou uma descolagem tardia e o impacto na copa das árvores.
Esta conclusão, que era uma evidência após análise do perfil de voo da aeronave, conforme um texto que publicamos, peca por tardia e o atraso da empresa em entregar documentação em nada contribui para o pronto esclareceimento desta situação.
No entanto, e ao contrário do que alguns opinam, esta situação deve-se a um conjunto de erros na avaliação dos locais e a limitações operacionais da aeronave, incapaz de abastecer naquela distância e numa zona com a orografia particularmente acidentada.
Quando comparado com o Canadair, o Be-200 apresenta como vantagem a maior capacidade de carga, que atinge os 12.000 kg, com pouco de combustível nos depósitos, uma maior velocidade e, dependendo da configuração, uma polivalência que o torna apto para outro tipo de missões.
Tem, no entanto, desvantagens quanto ao total de pontos de água, a uma menor capacidade de manobra e à necessidade de manter uma velocidade e altitute mais elevadas, de que resulta uma maior perda de água devido ao decréscimo de precisão e à evaporação.
Também o consumo de combustível e de manutenção deverá ser devidamente equacionado, sendo que também aqui a opção pelo CL-415 é mais favorável, sendo de analizar se o custo total de operação ou "total cost of ownership" não poderá penalizar fortemente o modelo russo.
A hipótese de uma frota mista, usando os dois modelos como complementares um do outro, tem custos totais proibitivos em termos de manutenção, treino de pessoal e outros associados, pelo que dificilmente poderá ser contemplada.
Não obstante as dúvidas que todo o processo levanta, a decisão no sentido da aquisição do Be-200 estaria praticamente tomada a partir do momento em que o pagamento fosse feito conta a amortização de uma dívida que assumia contornos de incobrável, pelo que o conteúdo de relatórios operacionais ou inquéritos a acidentes acabem por ser minimizados perante esta opção financeira.
Esperamos que, caso o Be-200 venha a ser adquirido, as contas finais sejam devidamente publicitadas, evitando assim uma situação semelhante à dos helicópteros Kamov, cujo custo de manutenção é manifestamente uma forma de ocultar o baixo preço de venda, transformando o negócio num desastre a médio prazo.
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