Já nos insurgimos por diversas vezes contra a não divulgação de relatórios em formato completo e com os documentos de suporte que serviram de base à sua elaboração, mas infelizmente, esta é uma situação que perdura e levanta um justificado clima de desconfiança.
Tal sucede não obstante as promessas de que a divulgação seria completa e atempada e de que o relatório final sobre o ocorrido em Famalicão da Serra, segundo as informações que temos, já estaria concluido.
Só a título de exemplo, o relatório sobre o acidente odne perderam a vida quatro bombeiros dos Sapadores de Coimbra foi refeito e alterado por diversas vezes, enquanto o referente às mortes em Famalicão da Serra continua por divulgar na íntegra, pelo que se pode inferir que ainda não foi encontrada a fórmula mágica que permita a sua publicação sem que haja necessidade de alterações futuras.
Conjugando estas duas ocorrências, apenas se pode concluir que o propósito dos relatórios de acidentes que envolvem a perda de vidas humanas é o de encontrar uma explicação que satisfaça a todos, nos quais podemos incluir desde a estrutura de comando aos decisores políticos, passando por questões relacionadas com seguros ou mesmo com uma suposta protecção da memória dos que perderam a vida.
Neste quase impossível equilíbrio falta, naturalmente, espaço para a verdade, pelo que a divulgação dos documentos de suporte da responsabilidade de especialistas fica, normalmente, fora do alcance de quem pretende compreender o que realmente se passou, de modo a tirar conclusões e evitar que o mesmo erro se repita.
Mas o facto de mencionarmos aqui estas duas ocorrência não é uma coincidência apenas pelo facto de terem ceifado diversas vidas humanas, mas sobretudo pelas circunstâncias, ainda não completamente reveladas, apontarem para a possibilidade, com um alto de grau de probabilidade, de haver causas comuns.
Ambos os relatórios contaram com a participação do professor Domingos Xavier Viegas, que mencionou como causa principal o comportamento eruptivo do fogo e o posicionamento incorrecto dos elementos atingidos por este fenómeno, mas nenhum dos casos se divulgou nem como detectar que uma erupção está eminente ou, pelo menos, quais as condições consideradas necessárias para que esta ocorra, de modo a que haja uma maior prudência por parte de quem estiver envolvido nas operações.
Caso o primeiro relatório tivesse sido apresentado, com todos os documentos e uma análise cuidada que alertasse para as causas e apontasse uma revisão de procedimentos tácticos que evitasse a sua repetição, talvez da introdução de novos conhecimentos nos cursos de formação tivesse resultado um menor risco e, eventualmente, a perda de menos vidas humanas.
Lamentavelmente, não se aprende nem se retiram conclusões de relatórios incompletos, frutos de uma análise política, que podem não traduzir o que realmente se passou, facto que leva a questionar a sua real utilidade, para além da óbvia desresponsabilização ou desculpabilização de um sistema que já provou ser inadequado à realidade.
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