segunda-feira, março 05, 2007

A quem falta uma cultura de risco?


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Efeitos de um terramoto

Realizou-se em Castelo Branco um seminário sobre Gestão da Emergência, com a participação de cerca de 700 bombeiros e técnicos de protecção civil oriundos de todo o País.

Este evento destinou-se a analisar a gestão de situações de emergência, que podem ir desde grandes catástrofes até ocorrências em redes de transportes públicos, áreas comerciais ou zonas urbanas densamente povoadas.

À margem do seminário, o director da Escola Nacional de Bombeiros (ENB) e presidente da Liga de Bombeiros Portugueses (LBP), Duarte Caldeira, considerou que os portugueses têm uma percepção inadequada dos riscos de catástrofes ou acidentes naturais, com informação insuficiente relativamente a reacções ou medidas a adoptar.

Segundo Duarte Caldeira, existe muito trabalho pela frente na área de sistemas de aviso e alerta das populações, necessária para que os meios de socorro actuem com eficácia.

Para este dirigente, a chave do sucesso na gestão de crises está na cultura de risco dos cidadãos, sem as quais os planos de emergência, por muito elaborados que sejam e independentemente dos meios envolvidos, poderão fracassar.

Para o presidente da LBP, "é preciso que os cidadãos comecem a assumir a sua auto-protecção como um exercício de cidadania, que não compete apenas aos bombeiros, ao Estado, aos outros. É uma responsabilidade de cada um de nós".

Efectivamente, existe uma tendência de minimizar riscos que, ao contrário do que alguns tentam fazer crer, parte de instancias governativas e das próprias autoridades que supervisionam o sector, as quais nunca implementaram sistemas de alerta antecipados nem fornecem as informações necessárias às populações.

Exemplo desta falta de informação, foi o sucedido recentemente aquando do tremor de terra que se sentiu sobretudo no Algarve, com o "site" do Instituto Meteorológico sem actualizações e sem um sistema de alerta, que as novas tecnologias facilitam, de modo a que as populações apenas iam tendo informações em contactos com quarteis de bombeiros ou em diálogos na rua.

Também a alusão à cultura de risco, dirigida para o cidadão comum, é redutora, pois esta é uma falha que se verifica nos próprios elementos encarregues do socorro ou da segurança, onde a mentalidade "vamos, mas não sabemos se voltamos" traduz, muitas vezes a mesma postura que o presidente da LBP, justamente, agora critica.

Existe, de forma generalizada, uma tendência a minimizar e a ocultar perigos potenciais, do que resulta um baixo grau de prontidão e um relativo alheamento por parte das populações, mas o mau exemplo a que se assiste por parte das autoridades a nível de planeamento, de estruturas, de opções tácticas e de tantas decisões manifestamente erradas, apontam para a verdadeira origem do problema.

Aliás, basta ter em conta o planeamento e a redefinição das urgências hospitalares, com parte da população portuguesa colocada em permanente risco por opção política, para ajuizar de forma diferente quais as razões pelas quais comportamentos a evitar são socialmente tolerados ou aceites, acabando por não passar de um mero complemento de decisões que, essas sim, contribuem para por em perigo numerosos habitantes de zonas do Interior, independentemente das atitudes ou cuidados que estes tomem.

A cultura de risco e a aceitação de situações de perigo evitáveis, acaba por ser, em última instância, determinada politicamente, sendo que alguns comportamentos individuais errados, servem como factor potenciador, mas serão sempre uma consequência e não a causa para que muitos apontam.

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