quinta-feira, novembro 22, 2007

O estranho ritual da desresponsabilização


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Um Ecureuil AS 350 B3 durante uma missão

Sempre que há um acidente, a tentação de todos quantos possam ter algum tipo de responsabilidade é a de arranjar uma desculpa e por os subordinados a falar por eles, invertendo assim princípios básicos de solidariedade.

Muitos ainda se lembram de quando caiu um viaduto sobre a estrada Lisboa-Sintra, cuja explicação com recurso a uma estranha e inaplicável teoria da borboleta que agita as asas no Japão veio a ditar a demissão do responsável pelas Estradas de Portugal, que substituia o ministro da tutela numa conferência de imprensa, bem como a corrida dos directores das forças policiais a justificar as afirmações de um mal infomado Ministro da Administração Interna relativamente a um assalto.

Agora que caiu um helicóptero e morreu o piloto, segunda situação que ocorre este ano com uma aeronave de combate aos incêndios, logo alguns responsáveis vieram a terreiro garantir a experiência da vítima, de modo a ilibar a tutela de ter colocado no terreno alguém sem a preparação necessária.

A suposta experiência de quem perde a vida é sempre a melhor e a mais fácil justificação, pois transfere as culpas da hierarquia, que apostou de forma correcta, para a vítima que, obviamente, cometeu um erro que, no fim, também não constará do inquérito oficial, destinado a proteger todos os envolvidos.

Na verdade, os relatórios tendem a branquear as situações, ilibando as vítimas, como que num estranho ritual de respeito pelos mortos, salvaguardando os decisores, que em última instância têm uma palavra, muitas vezes vinculativa, a dizer, e assegurando que as seguradoras pagam as devidas indemnizações.

Os atrasos nas entregas dos resultados dos inquéritos, ajustados até à exaustão para agradar e convir a todos, são exemplo e confirmação da sua inutilidade enquanto instrumento de apuramento da verdade e dos interesses que se movem em seu redor, manipulando o seu contéudo e as conclusões, tantas vezes inverosímeis, que pretendem passar como verdadeiras.

Todo este procedimento, tantas vezes repetido, se por um lado protege e salvaguarda todos os envolvidos, é também um exercício de falsidade que impede que os erros sejam corrigidos, permitindo que situações idênticas se repitam indefenidamente.

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