Painel de comandos do Beriev Be-200
Tal como
mencionamos, foi atribuida a uma utilização de mapas pouco rigorosos a
causa do acidente com o avião de combate a incêndios
Beriev Be-200, ocorrida em Julho deste ano na Barragem da Aguieira.
O inquérito concluí que houve falhas na gestão dos recursos humanos da tripulaçãon e que, segundo o coordenador do
Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves (GPIAA), coronel Anacleto Santos, a tripulação do
Beriev "
não tinha cartas actualizadas" e o planeamento terá sido "
um pouco descurado".
No planeamento foram usados mapas do
Google, obtidas a partir da Internet, para obter as distâncias disponíveis nas albufeiras, para onde foram transpostos dados calculados a partir de uma carta VFR+GPS publicada pela empresa
Jeppesen.
Finalmente, foram usadas cartas do
Instituto Geográfico do Exército (IGEOE), após o que se concluiu que os cálculos foram mal feitos ou efectuados sobre dados errados ou desactualizados, tendo-se verificado erros na determinação dos pontos de referência e nas distâncias.
Relembramos que no dia 6 de Julho, o
Be-200 tentou reabastecer os tanques com 6.200 litros de água na Barragem da Agueira, em
Santa Comba Dão, numa zona onde tal era tecnicamente impossível de efectuar.
Segundo o relatório, na trajectória planeada o
Be-200 apenas estaria 2.550 metros em contacto com a água, enquanto os cálculos e dados em poder da tripulação apontavam para uma extensão de 3.800 metros.
De acordo com os cálculos dos investigadores do
GPIAA, seriam necessários 2.839 metros para a manobra ser feita em segurança.
Neste cálculo falta a determinação das trajectórias em voo, ou corredores de aproximação, essenciais à concepção da manobra e vitais na altura em que, após sobrecarregado com o peso da água recolhida, o
Beriev tem que ganhar altitude com rapidez.
Na verdade, o
Be-200 necessita de muito
menos do que esta distância, mas é necessário ter em conta a orografia específica do local, de modo a efectuar os cálculos correctos, após o que é necessário introduzir a necessária margem de segurança.
Antes do acidente, o
Be-200 já conseguira recolher 4.000 litros de água, sem quaisquer problemas, mas quando foi efectuada uma tentativa de recolha de 6.200 litros, o avião embateu na copa de alguns eucaliptos devido a um "
erro na determinação dos pontos de referência e na avaliação de distâncias".
Em consequência desta falha de planeamento, houve um embate na copa das árvores, tendo alguns ramos entrado para os motores, pelo que um deles teve que ser desligado.
O
Be-200 conseguiu aterrar em segurança na
Base Aérea de Monte Real, mas o motor esquerdo teve que ser substituido devido aos danos que sofreu no compressor e zona envolvente das turbinas.
Como mencionamos, a necessidade de reabastecer os tanques na totalidade era necessário para obter uma vantagem competitiva sobre o seu rival, o
Canadair CL-415, dado que se houve limitações a valores inferiores, a maior capacidade de manobra do modelo canadiano superaria em termos operacionais o
Be-200.
Por outro lado, considerar "
um pouco descurado" o planeamento deste tipo de operação é algo que nos parece uma minimização absurda de um erro grosseiro cujas consequências podiam ter sido da maior gravidade.
É absolutamente inaceitável que um planeamento que decorreu nos meses antes da chegada do avião, portanto com tempo para fazer levantamentos no terreno, tenham sido realizados através dos meios anunciados, sem um sistema de validação através de uma cartografia alternativa, o que coloca em causa todo o profissionalismo da gestão da operação.
As conclusões, que acabam por ser uma sucessão de evidências, acabam por minimizar uma falta de planeamento grave, cuja responsabilidade deve ser apurada em sede própria, dado ser inaceitável permitir que a vida da tripulação e de quem esteja em terra seja colocada em risco devido a erros que não se podem aceitar a este nível.
Devemos, a bem do rigor, separar este acidente, derivado de factores humanos, da apreciação que se deve fazer da aeronave, pelo que o facto de se ter verificado este incidente apenas deve ter como consequências a revisão dos pontos de reabastecimento de água, com tudo o que tal implica em termos operacionais, mas não em termos das características técnicas do
Be-200.
Esperamos que, ao contrário do que sucede habitualmente entre nós, haja consequências de uma atitude que, pelos resultados trágicos que poderiam daí resultar, bem merecem uma investigação por parte das autoridades judiciais de modo a que haja uma responsabilização efectiva de quem descurou os seus deveres.